quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Quais são as principais propriedades da cafeína?

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Evidências científicas sugerem que o consumo moderado de cafeína pode exercer efeitos benéficos sobre vários sistemas fisiológicos. Uma revisão bibliográfica publicada em 2010 destacou que o consumo moderado (200-300 mg) da cafeína possui as propriedades de:

1) Diminuir a fadiga mental;
2) Aumentar o gasto energético de repouso;
3) Diminuir a sensação de esforço associado à atividade física;
4) Melhorar o desempenho físico, motor e cognitivo;
5) Aumentar a capacidade de concentrar e focar a atenção;
6) Reforçar a memória de curto prazo;
7) Aumentar a capacidade de resolver problemas que requerem raciocínio;
8) Aumentar a capacidade de tomar decisões;
9) Melhorar a coordenação neuromuscular.

Pesquisa confirmou uma destas propriedades quando observou que após 20 minutos do consumo de 100 mg de cafeína, indivíduos saudáveis apresentaram aumento da atividade neural em áreas cerebrais associadas com a atenção durante a execução de atividades que exigiam o uso de memória de curto prazo como, por exemplo, armazenar número de telefone por alguns minutos.

A cafeína (1,3,7-trimetilxantina) pertence a uma classe de compostos chamada xantina que apresenta estrutura química semelhante ao neurotransmissor adenosina. Esta substância possui ação farmacológica sobre o sistema nervoso central, pois pode aumentar a eficiência das redes neurais do córtex cerebral.

Existem relatos que devido a sua estrutura química ser semelhante a adenosina, a cafeína pode potencializar a neurotransmissão pós-sináptica no sistema nervoso simpático e, com isso, estimular o aumento do gasto energético.

Este efeito foi observado em um estudo científico em que homens saudáveis tiveram aumento significativo do gasto energético após 30 minutos da ingestão de cafeína em dose superior a 50 mg. Este efeito persistiu por pelo menos 4 horas, aumentando em 6% no gasto energético de repouso total.

Em um estudo duplo-cego, randomizado e controlado, mostrou que o consumo de 100 mg de cafeína, 2 horas e meia antes da atividade física, melhorou o desempenho de ciclistas.

Entretanto, cabe ressaltar que o consumo excessivo de cafeína pode causar efeitos adversos, como irritabilidade, dores de cabeça, insônia, diarreia e palpitações do coração.

Dieta e atividade física reduzem fatores de risco em obesos graves

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Pesquisadores norte-americanos publicaram na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association) um estudo que determinou a eficácia da perda de peso através de intervenções intensivas na dieta e atividade física. Os resultados obtidos permitem concluir que a intervenção na dieta combinada com atividade física inicial ou tardia resulta na perda de peso significativa, além de mudanças favoráveis nos fatores de risco cardiometabólicos em indivíduos com obesidade grave.

O tratamento não cirúrgico de indivíduos obesos, especialmente em relação às mudanças do estilo de vida, é muitas vezes ineficaz por dificuldade de adesão das mudanças propostas. Com isso, o objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos de uma intervenção intensiva do estilo de vida sobre a perda de peso em adultos com obesidade grave.

Trata-se de um ensaio clínico randomizado e cego, realizado entre 2007 a 2010 na Universidade de Pittsburgh. Foram recrutados 130 indivíduos com idades entre 30 a 55 anos e apresentando obesidade grave. Esta classificação foi definida através do índice de massa corporal entre 35 e 39,9 kg/m2 para a obesidade grau II e ≥40 kg/m2 para a obesidade grau III.

Os participantes foram divididos em: grupo 1 (atividade física inicial), que recebeu intervenções na dieta e atividade física durante os 12 meses de estudo, e grupo 2 (atividade física com atraso) teve a mesma intervenção da dieta do grupo 1, entretanto, teve início da atividade física apenas seis meses após o início da intervenção.

A dieta dos pacientes envolvidos no estudo foi ajustada para fornecer um aporte energético reduzido, que variou de 1200 a 2100 kcal/dia, com base no peso corporal inicial. Os macronutrientes foram distribuídos de modo a ofertar 20% a 30% de lipídios, 50% a 55% de carboidratos e 20% a 25% de proteína. A atividade física prescrita teve nível moderado, com caminhadas de 60 minutos, cinco dias por semana.

Dos 130 participantes randomizados, 101 (78%) completaram os 12 meses de avaliações. Embora ambos os grupos tenham perdido quantidades significativas de peso em seis meses, o grupo 1 perdeu mais peso (média de 10,9 kg) em comparação com o grupo 2 (média de 8,2 kg, p = 0,02). Entretanto, a perda de peso ao final dos 12 meses, foi semelhante nos dois grupos. Também foi observada redução na circunferência da cintura, gordura abdominal, gordura hepática, pressão arterial e resistência à insulina em ambos os grupos.

“Nossos resultados indicam que esta abordagem não-cirúrgica pode ser eficaz no tratamento da obesidade grave. Fica evidente que a atividade física deve ser incorporada no início de qualquer abordagem de restrição alimentar, para induzir perda de peso, além de reduzir a esteatose hepática e gordura abdominal. Estudos adicionais são necessários para determinar a eficácia em longo prazo e o custo-efetividade de tais abordagens”, concluem os autores.

Referência(s)

Goodpaster BH, Delany JP, Otto AD, Kuller L, Vockley J, South-Paul JE, et al. Effects of diet and physical activity interventions on weight loss and cardiometabolic risk factors in severely obese adults: a randomized trial. JAMA. 2010;304(16):1795-802.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Qual a diferença entre infecção e intoxicação alimentar?

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Infecções transmitidas por alimentos são doenças que resultam na ingestão de alimentos contaminados com micro-organismos patogênicos.

Exemplos de infecções transmitidas por alimentos: salmonelose (causada pela bactéria Salmonella enteritidis); hepatite viral tipo A (causada pelo vírus da Hepatite A); toxoplasmose (causada pelo protozoário Toxoplasma gondii).

Diferentemente, as intoxicações alimentares ocorrem quando o indivíduo ingere alimentos que já possuem substâncias tóxicas produzidas por micro-organismos, como bactérias e fungos.

Exemplos de doenças causadas por intoxicações alimentares: botulismo (causada pela toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum); intoxicação estafilocócica (causada pela toxina produzida pela bactéria Staphylococcus aureus); aflatoxicose (causada pela toxina produzida por certas cepas dos fungos Aspergillus flavus e A. parasiticus).

As intoxicações alimentares também podem ocorrer pela presença de outras substâncias químicas nos alimentos, como metais e poluentes ambientais, substâncias usadas no tratamento de animais, pesticidas usados inadequadamente e produtos químicos utilizados em limpezas.

Existe também outra classe de doença transmitida por alimentos, denominada toxinfecção causada por alimentos. São doenças causadas pela ingestão de alimentos contendo micro-organismos patogênicos e que ainda liberam substâncias tóxicas no organismo.

Exemplo de toxinfecção alimentar: cólera (doença causada pela enterotoxina produzida pela bactéria Vibrio cholerae).

Os sintomas dessas doenças podem variar de acordo com o micro-organismo ou toxina presente no alimento e com a quantidade ingerida. De um modo geral, os sintomas mais comuns são vômitos e diarreias, com a presença ou não de dores abdominais, dor de cabeça, febre ou outros sintomas.

Autora: Rita de Cássia Borges de Castro

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Dieta melhora sobrevida de pacientes que tiveram câncer de mama

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Pesquisadores norte-americanos publicaram na revista Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention um estudo mostrando que uma dieta classificada de boa qualidade está associada com menores níveis de inflamação crônica em pacientes que sobreviveram ao câncer de mama.

Existem evidências de que hábitos de vida saudáveis, incluindo a qualidade da dieta, podem estar associados com melhor sobrevida em pacientes que tiveram câncer de mama.

Estudos científicos têm destacado a importância do valor prognóstico da inflamação e da resposta imune em mulheres em estágio inicial do câncer de mama. Entre as sobreviventes do câncer de mama, maiores concentrações de proteína C-reativa (PCR) e amilóide A sérica (SAA), que são marcadores de inflamação crônica, têm sido associados com pior sobrevida.

Estes biomarcadores relacionados à sobrevida são importantes para estudar a relação entre as escolhas dos padrões alimentares após o diagnóstico do câncer de mama e a inflamação crônica, pois alguns componentes da dieta possuem propriedades pró ou anti-inflamatórias.

Assim, o objetivo dos pesquisadores foi de investigar como a qualidade da dieta está relacionada com biomarcadores da inflamação em mulheres sobreviventes ao câncer de mama e determinar se a atividade física pode modificar as associações observadas.

Participaram do estudo 746 mulheres com diagnóstico de câncer de mama em todos os estágios. As mulheres deveriam ter pelo menos seis meses de diagnóstico da doença e foram acompanhas durante trinta meses.

Os biomarcadores de inflamação analisados foram as concentrações séricas de proteina C-reativa (PCR) e proteina amiloide A sérica (SAA), além de hormônios produzidos pelo tecido adiposo, como a leptina e adiponectina.

Para avaliar o consumo alimentar durante os trinta meses, foi utilizado um questionário de frequência alimentar (QFA), desenvolvido e validado pelo Women's Health Initiative, conhecido como questionário WHI-FFQ, adaptado pelo Health Habits and Lifestyle Questionnaire. Este questionário é capaz de detectar os alimentos relevantes para grupos populacionais multiétnico e geograficamente diversificado, produzindo com confiança as estimativas que correspondem ao consumo alimentar dos indivíduos.

A qualidade da dieta foi medida através do Healthy Eating Index-2005 (Índice de alimentação saudável - HEI-2005), que utiliza uma abordagem com 12 componentes alimentares considerados importantes para a qualidade alimentar (como suco de frutas, frutas, vegetais em geral, vegetais verde-escuros e amarelados e legumes, grãos totais, grãos integrais, leite, carne e feijão, óleos, gordura saturada, sódio e por fim calorias de gorduras sólidas, bebidas alcoólicas e açúcares adicionados).

A classificação dos pontos foi feita em quartis (Q1 a Q4), em que quanto menor (Q1) a pontuação pior a qualidade da dieta e quanto maior (Q4), melhor a qualidade.

As mulheres que apresentaram melhor qualidade alimentar, quando comparadas com aquelas com pior qualidade (Q4 versus Q1), apresentaram concentrações significativamente mais baixas de PCR (1,6 mg/L versus 2,5 mg/L, p=0,004). No entanto, não houve diferença significativa nas concentrações de SAA, leptina e adiponectina.

Quando os pesquisadores avaliaram individualmente cada componente alimentar, os escores mais altos no consumo de vegetais verdes-escuros e amarelados e legumes foram significativamente associados com menores concentrações de PCR. A dieta de melhor qualidade foi associada com menores concentrações de PCR mesmo entre as mulheres que não realizam atividade física. Os pesquisadores relataram que não foram encontradas evidências entre menor índice de massa corporal e menor concentração de PCR.

“Nosso estudo preenche uma lacuna importante na literatura, definindo a inflamação como um mecanismo potencial pelo qual a qualidade da dieta pode afetar a sobrevida, independentemente da idade, raça, consumo calórico, IMC e atividade física. Isso sugere que entre mulheres que sobreviveram ao câncer de mama, consumindo uma dieta de melhor qualidade, podem obter menores níveis de inflamação crônica e este fator está está associado ao aumento da sobrevida”, comentam os pesquisadores.

“Estudos de coorte maiores com as sobreviventes ao câncer de mama, por meio de acompanhamento a longo prazo são necessários para confirmar nossos resultados. Dessa forma, será possível investigar como a diminuição da inflamação está relacionada com a qualidade da dieta e com melhora da sobrevida, além da melhor compreensão com relação a heterogeneidade dos resultados entre as populações”, concluem.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ômega-3 mostrou ter atividade antineoplásica

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Este estudo demonstrou que a administração de 2g de ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 (w-3 PUFA) por dia, durante seis meses, apresentou atividade antineoplásica em pacientes com polipose adenomatosa familiar (PAF).

A PAF é ocasionada por mutações no gene adenomatous polyposis coli e é uma predisposição para o câncer colorretal. A remoção do cólon é recomendada para estes pacientes, para a prevenção do câncer.

Foram recrutados indivíduos com PAF, anteriormente submetidos à colectomia com anastomose íleo-retal. Os critérios de exclusão do estudo consistiam em colectomia realizada nos 12 meses antecedentes ao estudo, alergia a peixe, presença de desordem hemorrágica, tratamento com anticoagulantes orais, tratamento com estatinas ou presença de hiperlipidemia que exigisse tratamento medicamentoso, consumo de óleo de peixe ou suplementos de w-3 PUFA anteriores ao estudo e anormalidades significativas nos parâmetros hematológicos e bioquímicos.

Os pacientes recrutados apresentavam três ou mais pólipos medindo ≥ 2mm de diâmetro, vistos através de retossigmoidoscopia flexível prévia. O uso de drogas antiinflamatórias não esteroidais foi proibido durante o período do estudo e somente o uso de baixas doses de aspirina foi permitido.

Os 55 participantes foram aleatoriamente divididos em dois grupos: 28 no grupo estudo e 27 no grupo controle. O primeiro foi orientado a consumir 4 cápsulas de 500mg de ácido eicosapentaenóico (EPA) por dia, duas vezes ao dia (junto às principais refeições), durante 6 meses. O grupo controle recebeu as mesmas orientações e cápsulas idênticas às de EPA, mas sem nenhum princípio ativo.

Os participantes foram submetidos a uma série de exames e amostras da mucosa retal foram retiradas para biópsia antes e após o período do estudo, para comparação dos dados.

Os dois grupos apresentaram características de saúde e comprimento retal restante semelhante (20,6 ± 4,0 cm no grupo controle e 20,4 ± 5,7 cm no grupo estudo). A maioria dos indivíduos era caucasiano, dois eram negros (um de cada grupo) e dois eram asiáticos (ambos do grupo controle). Apenas dois participantes, ambos do grupo controle, consumiram baixas doses (75mg/dia) de aspirina.

O tempo de colectomia variou consideravelmente entre os participantes (média de 15,4 ± 9,3 anos no grupo controle e 15,9 ± 9,6 anos no grupo estudo), assim como a idade dos participantes (idade média de 42,5 ± 13,8 anos no grupo controle e 39,5 ± 11,4 anos no grupo de estudo).

Todos os indivíduos apresentaram um número semelhante de pólipos intestinais antes do início do estudo, entretanto, após os 6 meses de intervenção com w-3 PUFA, os pólipos diminuíram 12,4% no grupo de estudo (média inicial de 4,13 ± 2,47 para 3,61 ± 2,31) e aumentaram 9,7% no grupo controle (média inicial de 4,5 ± 2,63 para 5,05 ± 3,30). A diferença do número de pólipos entre os grupos foi significativa (p < 0,005), permanecendo assim mesmo após a inclusão de outras variáveis, como idade e gênero.

O tratamento com w-3 PUFA também foi associado com diminuição no tamanho dos pólipos, tanto que a soma do diâmetro dos pólipos diminuiu 12,6% no grupo de estudo e aumentou 17,2% no grupo tratado com placebo (p=0,027).

Não houve episódios de sangramento em nenhum indivíduo nem mudanças notáveis nos parâmetros bioquímicos e hematológicos. Os efeitos adversos mais relatados pelos pacientes dos dois grupos foram as desordens gastrointestinais (diarreia, dores abdominais, distensão abdominal, náuseas, entre outros).

“Estudos anteriores já demonstraram que algumas drogas (como as drogas antiinflamatórias não esteroidais e inibidores seletivos da ciclooxigenase 2) são efetivas para a quimioproteção em PAF. Entretanto, existe uma preocupação quanto ao seu uso a longo prazo em pacientes com riscos cardiovasculares. Por outro lado, o tratamento com ácido eicosapentaenóico pode combinar a ação quimiopreventiva para o câncer colorretal com benefícios à saúde cardiovascular, o que é atrativo como estratégia terapêutica preventiva para populações de meia idade e idosos”, dizem os autores.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Lula assina decreto que garante direito à alimentação adequada

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Hoje 25/08/2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina nesta quarta-feira o decreto que institui a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. A cerimônia ocorre durante a reunião plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que começa às 17h30 no Palácio Itamaraty.

O documento define a forma de gestão, o financiamento, a avaliação e o controle social e busca para assegurar o direito à alimentação adequada e saudável em todo o País, conforme prevê a Constituição Federal e a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan).

Participam da solenidade a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes, e o presidente do Consea, Renato Maluf, entre outras autoridades.


Agência Brasil

domingo, 1 de agosto de 2010

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Muito legal essa entrevista com Glauce Hiromi Yonamine, nutricionista das Unidades de Alergia, Imunologia e Gastroenterologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Especialista em Saúde, Nutrição e Alimentação Infantil pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestranda em Ciências pelo Departamento de Pediatria da FMUSP.

Qual a idade em que há diminuição do apetite da criança e porque isto ocorre?


Geralmente, a diminuição do apetite se inicia a partir do final do primeiro ano de vida porque, nesta fase, ocorre desaceleração da velocidade de ganho de peso e crescimento, a qual se mantém durante a fase pré-escolar. Além disso, a criança começa a se interessar mais em descobrir o mundo ao seu redor, já que começa a andar. Por isso, a alimentação deixa de ser sua principal fonte de prazer.

Como diferenciar a falta de apetite fisiológica da patológica?

É preciso uma avaliação médica para excluir causar orgânicas para a recusa alimentar, como infecções, parasitoses, carências de vitaminas e minerais, distúrbios de deglutição, doença do refluxo gastroesofágico, alergia alimentar etc. Existem alguns sinais que podem auxiliar no diagnóstico entre falta de apetite de causa não orgânica da falta de apetite de causa orgânica. Geralmente, a criança com falta de apetite de causa não orgânica apresenta ganho de peso e estatura adequados e podem-se perceber, especialmente, práticas inadequadas dos pais para a alimentação, devido à falta de orientação e ansiedade deles em alimentar a criança, como:

- alimentar a criança à noite, enquanto ela está dormindo ou sonolenta porque ela não se alimentou direito durante o dia;

- alimentar mecanicamente, estabelecendo horários rígidos para a alimentação, sem respeitar a saciedade ou oferecendo os alimentos como se a criança fosse um objeto inanimado;

- tentar alimentar a criança constantemente, geralmente sem sucesso, independente do apetite da criança, na tentativa de fazer com que a criança aceite mais um pouco de alimento ou bebida;

- forçar a alimentação, mesmo após recusa da criança e contra a sua vontade (por exemplo: abrir a boca da criança e colocar o alimento à força);

- distração condicional, isto é, a criança só aceita a refeição se houver distração (com música, televisão, brinquedos, se estiver andando) e não demonstra interesse em se alimentar;

- prolongar a refeição por mais de 30 minutos, apesar do insucesso em alimentar a criança.

Outros fatores que podem indicar a falta de apetite de causa não orgânica são os problemas de dinâmica familiar e comportamentos inadequados da criança, como seletividade (aceitação de apenas um tipo de alimento ou alimentos de determinada cor), ânsia de vômito antes da refeição ou ao colocar o alimento na boca, e recusa ao alimento (virando a cabeça) quando este é oferecido.

Quais os objetivos da nutrição nos casos das crianças que “não querem comer”?


Os objetivos da nutrição são: garantir crescimento e desenvolvimento adequados; encorajar a formação de hábitos alimentares saudáveis, prevenindo doenças crônicas do adulto, a desnutrição e a instalação de um distúrbio alimentar real.

Como os alimentos devem ser oferecidos às crianças?


De maneira geral, os pré-escolares devem receber de 5 a 6 refeições ao dia (café da manhã, almoço, jantar e de 2 a 3 lanches), em intervalos regulares (a cada 2 a 3 horas), mas sem rigidez, isto é, respeitando os sinais de fome e saciedade da criança. Todos os grupos de alimentos devem ser oferecidos e de forma variada. Os alimentos devem ser colocados no prato em pequena quantidade, permitindo repetição por solicitação da criança. Deve-se desencorajar as refeições noturnas, a oferta de guloseimas e de sucos entre as refeições. As crianças devem se sentar à mesa, realizar as refeições junto com a família, sendo estimuladas a se alimentar sozinhas, mas sempre com supervisão. Em caso de uso de mamadeiras, estas devem ser substituídas pelo copo.

Que estratégias podem ser utilizadas para incentivar o consumo alimentar?


A criança deve ser preparada para a refeição, isto é, avisá-la para ir finalizando a brincadeira ou qualquer outra atividade minutos antes da refeição e ir se “aprontando” para a refeição. Pois, se a criança está completamente envolvida com brincadeiras e é interrompida bruscamente, haverá maior resistência para sentar-se à mesa para a refeição.

Os alimentos devem ser arrumados no prato de forma agradável, podendo ser útil utilizar pratos com divisórias, para aquelas crianças que gostam de ver os alimentos separados.

Nessa fase é comum a neofobia, isto é, resistência a experimentar novos alimentos. É importante variar a forma de oferta dos alimentos e expor a criança ao mesmo alimento de 8 a 10 vezes, em ocasiões diferentes, para que ela aprenda a consumi-los. A oferta do alimento novo no início da refeição, quando a criança está com mais fome, pode facilitar a aceitação. Enfatizar a cor, forma, aroma e textura dos alimentos para despertar o interesse da criança.

Os pais devem servir como exemplo, consumindo uma alimentação saudável e variada, pois as crianças se espelham neles.

A participação na compra e preparo dos alimentos, de forma lúdica (dar nomes aos alimentos, fazer desenhos com alimentos, ajudar a picar, adicionar ingredientes as preparações) ajuda a aumentar o interesse em consumi-los.

Se a criança recusar os novos alimentos, os pais não devem demonstrar ansiedade ou nervosismo, pois isso só gera estresse e piora a recusa alimentar. Nestas situações a criança pode estar querendo chamar a atenção dos pais, sendo necessário dar carinho e atenção em outros horários do dia.

Pode ser utilizada a estratégia de compensação para o consumo de sobremesa caso a criança consuma toda a refeição?

Não se deve exigir que a criança coma tudo o que está no prato, mas sim, permitir que ela respeite os sinais de saciedade. Também não é recomendado insistir, fazer chantagem, pressão, punir ou prometer premiações como a sobremesa. Estas estratégias só pioram a aceitação dos alimentos em longo prazo. A sobremesa e os outros doces não devem ser supervalorizados, mas sim oferecidos eventualmente, como mais uma preparação, com limites quanto ao horário e quantidade. Os alimentos não devem ser divididos em “bons” e “ruins” ou “permitidos” e “proibidos”, pois isso só aumenta a vontade de comer aqueles alimentos que são “ruins” ou “proibidos”.

O ambiente da refeição influencia na ingestão?


Sim, o ambiente deve ser calmo e agradável, sem brigas no momento da refeição, para que a criança tenha experiências positivas em relação à alimentação.

Quais orientações podem ser dadas às famílias?

Os pais devem ser orientados quanto às características da alimentação dessa fase e devem ser tranquilizados para não supervalorizar a diminuição do apetite. Os pais devem oferecer alimentos nutritivos e variados, estabelecer rotinas e horários para a alimentação, oferecer as refeições em ambiente agradável e aceitar a variabilidade da alimentação deste período. Devem saber que as crianças têm o direito de participar na escolha dos alimentos (sempre entre opções saudáveis), de ter preferências e aversões e de decidir o quanto querem comer.

É importante orientar sobre o sentimento de culpa, principalmente entre pais que trabalham fora do lar e a incapacidade de impor limites à criança como forma de compensação às crianças.

A mamadeira de leite pode ser oferecida no lugar de uma refeição?

A mamadeira nunca deve ser oferecida em substituição à refeição salgada (almoço e jantar), pois a criança não aprenderá a consumir os alimentos destas refeições e sempre manipulará os pais para receber o leite, que geralmente é o alimento mais preferido, pois a criança já está acostumada com o sabor e não precisa mastigar.

É indicado “esconder” verduras entre outros alimentos de melhor aceitação?

Esconder as verduras em outros alimentos bem aceitos não é aconselhável, já que a criança não aprende a comer adequadamente. A criança precisa ver o alimento e saber o que está comendo, pois só assim, aprenderá a ter uma alimentação saudável e variada.

Existe algum suplemento alimentar que possa aumentar o apetite destas crianças?

Na maioria dos casos, as crianças não precisam de polivitamínicos ou suplementos alimentares, já que estes não irão exercer efeito sobre o apetite e não solucionarão o problema. Geralmente, as crianças consomem os nutrientes em quantidade adequada para o ganho de peso e crescimento, quando se avalia a alimentação por períodos maiores do que apenas durante um dia. Em casos de pais muito ansiosos, os polivitamínicos ou suplementos alimentares podem funcionar como placebo, permitindo maior adesão dos pais às orientações e maior sucesso do tratamento, mas isso deve ser avaliado individualmente.

Nestes casos, a ingestão de líquidos deve ser evitada junto com as refeições?

A ingestão de líquidos durante o almoço e jantar deve ser desencorajada. A criança deve tomar água nos intervalos, para não sentir sede no momento da refeição e no máximo, tomar um copo pequeno de água ou suco natural, após a refeição. Isto porque a criança pode encher o estômago de líquido e deixar de consumir os alimentos da refeição, além haver falta de estímulo para a mastigação, já que os líquidos auxiliam no processo de deglutição.

É importante que seja feita uma avaliação de composição corporal nestas crianças?

Estas crianças devem ter o peso e estatura aferidos em diferentes consultas para avaliar a evolução destes parâmetros. A explicação sobre a curva de crescimento, demonstrando aos pais que a criança está crescendo dentro dos padrões de normalidade ajuda a tranquilizá-los.