quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ômega-3 mostrou ter atividade antineoplásica

Este estudo demonstrou que a administração de 2g de ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 (w-3 PUFA) por dia, durante seis meses, apresentou atividade antineoplásica em pacientes com polipose adenomatosa familiar (PAF).

A PAF é ocasionada por mutações no gene adenomatous polyposis coli e é uma predisposição para o câncer colorretal. A remoção do cólon é recomendada para estes pacientes, para a prevenção do câncer.

Foram recrutados indivíduos com PAF, anteriormente submetidos à colectomia com anastomose íleo-retal. Os critérios de exclusão do estudo consistiam em colectomia realizada nos 12 meses antecedentes ao estudo, alergia a peixe, presença de desordem hemorrágica, tratamento com anticoagulantes orais, tratamento com estatinas ou presença de hiperlipidemia que exigisse tratamento medicamentoso, consumo de óleo de peixe ou suplementos de w-3 PUFA anteriores ao estudo e anormalidades significativas nos parâmetros hematológicos e bioquímicos.

Os pacientes recrutados apresentavam três ou mais pólipos medindo ≥ 2mm de diâmetro, vistos através de retossigmoidoscopia flexível prévia. O uso de drogas antiinflamatórias não esteroidais foi proibido durante o período do estudo e somente o uso de baixas doses de aspirina foi permitido.

Os 55 participantes foram aleatoriamente divididos em dois grupos: 28 no grupo estudo e 27 no grupo controle. O primeiro foi orientado a consumir 4 cápsulas de 500mg de ácido eicosapentaenóico (EPA) por dia, duas vezes ao dia (junto às principais refeições), durante 6 meses. O grupo controle recebeu as mesmas orientações e cápsulas idênticas às de EPA, mas sem nenhum princípio ativo.

Os participantes foram submetidos a uma série de exames e amostras da mucosa retal foram retiradas para biópsia antes e após o período do estudo, para comparação dos dados.

Os dois grupos apresentaram características de saúde e comprimento retal restante semelhante (20,6 ± 4,0 cm no grupo controle e 20,4 ± 5,7 cm no grupo estudo). A maioria dos indivíduos era caucasiano, dois eram negros (um de cada grupo) e dois eram asiáticos (ambos do grupo controle). Apenas dois participantes, ambos do grupo controle, consumiram baixas doses (75mg/dia) de aspirina.

O tempo de colectomia variou consideravelmente entre os participantes (média de 15,4 ± 9,3 anos no grupo controle e 15,9 ± 9,6 anos no grupo estudo), assim como a idade dos participantes (idade média de 42,5 ± 13,8 anos no grupo controle e 39,5 ± 11,4 anos no grupo de estudo).

Todos os indivíduos apresentaram um número semelhante de pólipos intestinais antes do início do estudo, entretanto, após os 6 meses de intervenção com w-3 PUFA, os pólipos diminuíram 12,4% no grupo de estudo (média inicial de 4,13 ± 2,47 para 3,61 ± 2,31) e aumentaram 9,7% no grupo controle (média inicial de 4,5 ± 2,63 para 5,05 ± 3,30). A diferença do número de pólipos entre os grupos foi significativa (p < 0,005), permanecendo assim mesmo após a inclusão de outras variáveis, como idade e gênero.

O tratamento com w-3 PUFA também foi associado com diminuição no tamanho dos pólipos, tanto que a soma do diâmetro dos pólipos diminuiu 12,6% no grupo de estudo e aumentou 17,2% no grupo tratado com placebo (p=0,027).

Não houve episódios de sangramento em nenhum indivíduo nem mudanças notáveis nos parâmetros bioquímicos e hematológicos. Os efeitos adversos mais relatados pelos pacientes dos dois grupos foram as desordens gastrointestinais (diarreia, dores abdominais, distensão abdominal, náuseas, entre outros).

“Estudos anteriores já demonstraram que algumas drogas (como as drogas antiinflamatórias não esteroidais e inibidores seletivos da ciclooxigenase 2) são efetivas para a quimioproteção em PAF. Entretanto, existe uma preocupação quanto ao seu uso a longo prazo em pacientes com riscos cardiovasculares. Por outro lado, o tratamento com ácido eicosapentaenóico pode combinar a ação quimiopreventiva para o câncer colorretal com benefícios à saúde cardiovascular, o que é atrativo como estratégia terapêutica preventiva para populações de meia idade e idosos”, dizem os autores.

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